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Storytelling:

a arte de contar histórias

Storytelling:

a arte de contar histórias

As histórias sempre estiveram presentes na trajetória da humanidade. Mas por que será elas causam tanto fascínio? Descubra nessa reportagem como o storytelling atua na música, na literatura, no cinema e no jogos digitais.

Anthony Teixeira

Jorge Pacheco

Guilherme Henriques

Larissa Vasconcelos

Rayssa Mambach

Âncora 5

O storytelling dentro das canções

O storytelling dentro das canções

Âncora 1

Playlist “storytelling”, música 1. 

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Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia, teatro e artesanato e foram viajar

A Mônica explicava pro Eduardo coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar

Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer e decidiu trabalhar

E ela se formou no mesmo mês em que ele passou no vestibular

E os dois comemoraram juntos e também brigaram juntos muitas vezes depois

E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa, que nem feijão com arroz.

   A música cantada por Renato Russo, lançada em 1986 pelo Legião Urbana, é um exemplo de storytelling. Isto é, uma história contada através da música. 

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   O storytelling, segundo a doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Luana Viana - que já escreveu um artigo sobre o uso do Storytelling no Radiojornalismo Narrativo -, de maneira geral, é uma forma de estruturar e organizar a narrativa. Essa técnica pode ser veiculada por suportes impressos, pelo audiovisual e até de forma presencial, como passar uma mensagem através de uma palestra. Ou seja, é uma técnica que pode ser aplicada às mais diferentes formas de comunicação.

O storytelling pode ser usado tanto de forma ficcional, quanto de forma real. A ideia base dele é recorrer a sentimentos e emoções de quem está consumindo a narrativa. Então, é tocar aquela pessoa, para que ela viva em si ou consiga se imaginar na mesma situação que os personagens da narrativa

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Luana Viana

   Contudo, tal técnica precisa ser adaptada conforme aparece em cada mídia.

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   Como no caso das músicas, nas quais o storytelling é um recurso muito utilizado, mesmo que o seu uso não seja nomeado. O compositor pode não deixar claro que está compondo uma música em cima do storytelling, mas cria um personagem, dentro de um ambiente, passando uma mensagem através de um conflito ou desfecho, então, por consequência, está incluindo o storytelling na sua composição. 

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   Além de Eduardo e Mônica, boa parte das músicas do Legião Urbana foram construídas em cima de uma narrativa, formuladas através da arte de contar histórias. Passando não apenas uma mensagem, mas usando de casos reais ou fictícios para contar essa narrativa. Dessa forma, possuem um storytelling. 

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   O doutor em Composição Musical pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), João Francisco de Souza Corrêa, comenta sobre narrativas dentro da música e como elas podem se tornar atraentes para os consumidores de música.

Nós vamos ter vários elementos musicais que se cristalizaram ao longo dos anos como convenções que denotam certos elementos extramusicais. Então, nós vamos ter determinadas melodias, harmonias, ritmos e timbres que são componentes específicos da música que conseguem remeter a lugares, a épocas distantes, a povos específicos, também sensações como alegria, tristeza, melancolia. Então, a música, ela tem essa capacidade. Também tem a capacidade, por exemplo, de identificar, de caracterizar um personagem dentro de uma narrativa. Nós vamos ter várias possibilidades que podem ser aplicadas em uma composição, que auxiliam para que ela conte uma história de forma eficiente.

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Professor João Corrêa tocando a composição "III - Descaminhos - Suite palimpsestos"

Crédito: João Corrêa

João Francisco de Souza Corrêa

   Ele acrescenta que composição é um processo; primeiro deve-se ter em mente que tipo de história aquela música vai contar, porque a partir disso se terá uma noção de quais elementos de caráter técnico deverão ser usados. 

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   Se uma música tem como objetivo contar uma história que se ambienta no futuro, o ideal é usar melodias relacionadas com tecnologia, como as eletroacústicas, mas, se for uma narrativa de ação, então a música precisa transmitir essa sensação de movimento, através de sons acelerados. Se for uma história mais calma, por exemplo, romântica, se sugere uma sonoridade mais estática, com um andamento mais lento. Porém, não é tão simples colocar uma narrativa dentro da música. Francisco Corrêa explica que um dos principais desafios para conseguir fazer isso é sintetizar a história e transformar essa síntese no sentimento principal da narrativa, afinal, o tempo médio de uma música é de 4 minutos.

 

   Para conseguir fazer essa condensação, Corrêa explica que o compositor precisa de “não somente uma sensibilidade apurada para captar esses sentimentos, mas também todo um preparo técnico, todo um preparo ferramental que vai fazer com que ele consiga expressar as suas escolhas da melhor forma. Isso abrange várias questões que transbordam a escolha dos melhores materiais musicais para utilizar, mas também tem a ver com os melhores momentos para inserir a música, as relações com os elementos pré-existentes, no caso do audiovisual, as escolhas relacionadas a sincronia com os elementos da narrativa”. Corrêa também comenta sobre "valor agregado", estudado pelo teórico do cinema francês e compositor, Michel Chion, que é quando a música transmite algo que as imagens não conseguem. Por isso são usadas, por exemplo, no cinema.

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   O doutor em Composição ainda explica que apenas determinar o tipo de história que será contada não basta, é necessário saber quais as ferramentas musicais serão utilizadas para atingir o objetivo da música. Contudo, a ausência da coerência entre sonoridade musical e o conteúdo da música não implica em canções sem storytelling. Há eventuais músicas que não têm essa harmonia, nas quais a história contada não combina com a melodia, o timbre de voz do cantor e os recursos sonoros e ainda assim podem ter as características do storytelling. O duo de Ohio, Twenty One Pilots, lança álbuns com um determinado conceito por trás que busca contar uma história. Entretanto, em determinados álbuns, as letras que normalmente falam de inseguranças, medos e frustrações do vocalista, Tyler Joseph, são "harmonizadas" em cima de técnicas sonoras que não remetem ao que a letra canta. Provavelmente, porque o álbum conta a história e não é apenas uma música que faz isso, o que traz essa necessidade de não manter todo um álbum com a mesma sonoridade. Muitos fãs brasileiros comentam que curtem a música dançando ou felizes, mas quando param para entender ou refletir sobre a letra sentem emoções contrárias à alegria.

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   Entretanto, esse cuidado relativo à harmonia das músicas, às vezes, pode ser de suma importância. A música mais famosa da banda californiana Foster the People é cantada do ponto de vista de um jovem que sofre bullying e motivado por isso se vinga causando um massacre. Embora o vocalista da banda, Mark Foster, tenha defendido a canção como uma tentativa de incentivar os cuidados com a saúde mental, a música ainda é interpretada como um incentivo à violência e seu ritmo dançante também é um contraponto. 

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   Sobre narrativas contadas através da música, a consumidora de canções e estudante do 5° semestre em Música, da Unicamp, Bruna Caroline de Souza, acha interessante quando uma canção conta uma história, principalmente de fatos marcantes, de períodos históricos, como guerras. Ela, inclusive, gosta de interpretar uma música quando há uma história por trás da qual ela tem conhecimento.

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   Bruna comenta sobre uma em específico: “Tem uma música que se chama 1812 Overture, se eu não me engano, mas que retrata uma guerra que ocorreu em 1812. É muito interessante a forma como ela retrata essa guerra que aconteceu. Inclusive, os próprios instrumentos fazem som de canhão de guerra. Para mim é mais interessante assim, que retrata do começo ao fim e dá para sentir essa emoção do que estava acontecendo no período”.


   No entendimento de Bruna, músicas de qualquer gênero conseguem contar histórias:

Eu acho que qualquer gênero está propenso a contar uma história. Eu vejo isso muito no Rap. Tem muito Rap contando histórias. A gente tem (também) Eduardo e Mônica que é totalmente diferente de uma música clássica, por exemplo, mas conta uma história. Uma música clássica também pode contar uma história. Então eu não acho que não é só um estilo de música que pode fazer isso, eu acho que é muito geral. Assim, qualquer compositor que quiser escrever qualquer tipo de música consegue contar uma história através disso.

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Bruna Caroline de Souza

   O storytelling criado dentro de uma música pode ser aprofundado em outros meios, essa expansão da narrativa é denominada "transmídia". Como o exemplo de Eduardo e Mônica, que se tornou um filme programado para ser lançado neste ano. Ou vários álbuns da cantora Beyoncé, nos quais as histórias das músicas se tornaram documentários, shows estruturados conforme as músicas. Tendo as canções como elemento unificador disso tudo. 

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Ouça o nosso podcast sobre storytelling nas músicas:

Crédito: Anthony T.

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Bruna Souza tem interesse em repercussão e explica que as histórias podem aparecer até mesmo com uso desses instrumentos

   O storytelling aparece nas mais diferentes músicas e está presente em várias mídias e formas de comunicação. Como na literatura, uma das formas mais antigas de contar histórias.  

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A arte de contar histórias na literatura

A arte de contar histórias na literatura

Âncora 2

Capítulo 2

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Era uma vez a história da humanidade! Algo grandioso capaz de mudar as direções de toda uma espécie. Milhares, milhões, bilhões de anos se passaram e a vontade do homo sapiens de contar histórias ainda está presente no cerne dos humanos, em seu DNA. 

   Histórias são registradas para serem contadas, repassadas, relembradas. Antes da escrita, há 3.500 anos a.C., não havia essa possibilidade de forma integral. As histórias eram contadas oralmente ou representadas através de desenhos e nem todos os detalhes poderiam ser repassados. Até que a escrita surgiu e 1.500 anos mais tarde, a primeira obra literária foi escrita (Epopeia de Gilgamesh). 

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   Esses eventos, o desenvolvimento da escrita e da literatura, possibilitaram a contação de histórias através de obras narrativas e livros.

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   Para o historiador Yuval Harari, a capacidade de criar ficções é a principal característica que distingue os seres humanos das demais espécies vivas. Então, nessa perspectiva, sem a capacidade de contar histórias, de inventar narrativas e criar imagens hipotéticas e imaginadas, a humanidade não seria a mesma. Ainda, segundo Harari, a capacidade de criar mitos, deuses, perigos além da compreensão humana é o que coloca as pessoas no mundo em que vivem hoje. Isto é, um cenário atravessado por narrativas e storytellings, ou seja, histórias contadas. 

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   A doutora em Literatura pela Universidade de São Paulo (USP), Débora Reis Tavares, explica um pouco sobre storytelling nos livros:

O Storytelling é bem antigo na literatura e significa contar histórias. Isso surge na tradição oral, ao organizar ações e eventos em torno de personagens e contar essa história para outras pessoas ouvirem.

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Crédito: Wikimedia.org

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O storytelling no seu início

Débora Reis Tavares

   No período Paleolítico, entre 2,7 milhões de anos até 10.000 anos atrás, quando os nômades viviam em cavernas e contavam histórias com pinturas nas paredes de pedras, os ancestrais usavam esse método para contar grandes acontecimentos, em volta de fogueiras, para as gerações mais novas, como as caçadas de mamutes, as enormes colheitas e os períodos de clima exótico. Sem esses registros, sem essa forma de contação de histórias reais, atualmente, não se poderia ter informações de como a vida era naquela época.

 

   O escritor e historiador norte-americano, Dee Brown, representa algo parecido com esse momento de transmissão de cultura oral e narrativas em volta da fogueira no seu livro “Enterrem meu coração na curva do rio”. Embora o livro se passe no período de colonização norte-americano, por volta século XVIII e tenha seu foco praticamente exclusivo nos aborígenes de lá, a trama se calca bastante na forma como a cultura ancestral e ainda rudimentar tratava as grandes batalhas entres os indígenas e os colonizadores, além de mitificar os xamãs, líderes de tribos e grandes combatentes nativos como mitos e lendas da cultura nativo americana. Tudo isso fundamentado em relatos históricos e documentos oficiais da época. Dee Brown traz uma narrativa bastante verídica e emotiva e dá voz a uma cultura quase extinta e muito oprimida até hoje nos Estados Unidos.

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   Ainda na área histórica, é interessante resgatar as epopeias gregas, também conhecidas como poesias épicas ou heroicas. Elas se tornaram um gênero literário composto por poemas de grande porte e com narrativas versadas sobre heróis da mitologia e mitos Gregos, quase sempre ambientadas em acontecimentos míticos ou históricos que se fundamentavam na cultura da época. Entre seus grandes escritores está Homero e suas duas maiores obras: Ilíada e Odisseia.

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   Hoje o storytelling continua intrínseco na sociedade. Além da literatura, o teatro, cinema, vídeo game e até a música possuem um pé no storytelling. A escritora e mestre em Artes Visuais, Leila de Souza Teixeira, comenta que essa técnica, hoje em dia, é bastante visível no Marketing usado nas redes sociais. “Storytelling, para mim, sempre esteve relacionado aos textos que produzo para redes sociais, publicados junto com imagens (fotos ou vídeos). Na maioria são sobre literatura, mas nem sempre”. Sobre usar essa técnica e narrativas em suas publicações, ela complementa: “O storytelling demanda menos tempo, pois não desejo que ele tenha muitas camadas como minhas narrativas. As imagens formam algumas camadas, e o resto é aquilo que eu quero comunicar e pronto. São processos completamente diferentes para mim”. Nesse caso, Leila Teixeira desenvolve um storytelling envolvendo a literatura, mas também o Marketing, o qual usa essa técnica para atrair público e vender produtos. Já Débora Tavares vê o storytelling como uma forma de contar histórias em outras mídias, ela diferencia a narrativa do storytelling da seguinte forma:

Narrativa é a forma literária, geralmente em prosa, com registro escrito. Já o storytelling pode aparecer em outras formas também, é mais o ato de contar histórias também através da fala, e isso aparece no teatro, no audiovisual, nos podcasts, na TV. Se a gente fosse traduzir o termo storytelling ficaria algo muito próximo de ‘contação de história’, o que tem outra conotação no contexto brasileiro, mais voltado para o público infantil… Resumindo, no storytelling a gente tem pessoas fazendo algo em um determinado tempo e espaço e a maneira como essas ações são apresentadas muda completamente o jeito que a história é recebida.

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Débora Reis Tavares

   Ela também traz o exemplo de George Orwell: “No caso do Orwell, existe mais uma questão com a narração em si, com uma preocupação de misturar conteúdo de crítica social com a forma. Então as personagens estão fazendo coisas específicas em um tempo e espaço que possuem um paralelo direto com as questões que ele queria comentar”. Nessa situação, Orwell traz elementos fictícios que fazem com o que o leitor consiga fazer um paralelo com a realidade da época e ainda pode ser comparado com a realidade atual.

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   O storytelling é uma técnica que usa da narrativa, já a narrativa, nem sempre, usa o storytelling, que organiza de forma coesa a história. Usando personagens, ambientação, conflitos e uma mensagem, o storytelling pode contar histórias em diferentes formatos e meios de comunicação. Inclusive, mídias sociais e no próprio jornalismo, que, por vezes, usa de relatos e reconstituições de acontecimentos para contar histórias. Coisa que também é feita pelos filmes, no geral e séries, que reconstituem histórias parcialmente reais e transformam aquela narrativa em objeto de identificação com o público. Ou criam no imaginário do público essa identificação com uma história que sequer é real. O storytelling, frequentemente, é adaptado para o meio audiovisual, como o cinema.

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A especialista Débora Tavares explica sobre os primórdios do storytelling

Crédito: Débora Tavares

O storytelling nas telas

storytelling nas telas

Âncora 3

Take 3, penúltimo arco.

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Os mistérios da trama começam a ser revelados, a emoção está à flor da pele. O que será que vai acontecer nas cenas seguintes, próximo ao "gran finale"?

   O ser humano é um contador de histórias nato. Na antiguidade, a contação de histórias servia a um propósito sociopolítico, as histórias continham a tradição e os conhecimentos de um povo e eram passados de geração em geração. Somente em 550 a.C. surgiram os teatros na Grécia Antiga, em Atenas, geralmente relacionados aos cultos às divindades, principalmente Dionísio. Muitos anos depois, no Séc. XIX surge uma inovação que se torna propícia para a introdução do storytelling, nesta arte de contar histórias, que é o cinema.

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   Os roteiristas e produtores de audiovisual para o cinema são mestres em contar histórias. O storytelling é usado, nesse meio, como uma forma de aproximar o público do conteúdo narrado. 

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   Com o objetivo de fazer o telespectador se sentir na pele dos personagens, pautas sociais são engajadas pelos produtores. Dessa forma, o consumidor de conteúdo sente que a história - ou em parte - dele está sendo contada pelo cinema, gerando identificação naquele personagem.

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   A franquia mundialmente conhecida Star Wars usa do storytelling para narrar acontecimentos fictícios que também podem ser relacionados com a realidade. Star Wars trata de drama, romance, humor e afins, contudo também traz a questão política de forma muito bem estruturada. A trama central dos filmes é uma disputa política entre o Império (tirano e ditatorial) e um grupo liberal. Na qual o personagem que era considerado um potencial "salvador" (Anakin Skywalker) é corrompido e se torna um grande vilão (Darth Vader). Atrelada a disputa política, existe, ao longo da franquia, uma outra constante batalha entre o bem (Luke Skywalker e Leia Organa) o mal (Vader). Não é uma narrativa surpreendente nos dias de hoje, mas sendo uma franquia de 1977 não pode ser desconsiderada, pois foi uma das grandes inovadoras (para a época) em narrativas contadas pelo cinema.

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   O storytelling não é uma técnica atual, o que se atualiza são as pautas engajadas para gerarem identificação com a audiência. Atualmente, obras envolvendo o feminismo, a negritude, o racismo, a violência policial e até mesmo a pandemia estão em alta. Filmes indicados ao Oscar de 2021 podem ser enquadrados nessa descrição. 

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   Como "Bela Vingança", da diretora Emerald Fennel, que concorreu como melhor filme (não saiu vitorioso nessa categoria, mas venceu como "melhor roteiro original"). A obra narra a história de Cassandra Thomas (Carey Mulligan). Ela tem a reputação de uma mulher de fácil acesso, mas, na verdade, ela finge embriaguez às noites para se vingar dos homens e lidar com traumas do passado. A obra traz esses elementos que contribuem para que o público, em especial, o feminimo se sinta aproximado da história contada. Afinal, traz a temática social relativa ao feminismo - o abuso contra mulheres, por serem consideradas um objeto acessível. Também há personagens que geram identificação, como a personagem principal, Cassie (a qual foi interpretada tão bem que foi indicada na categoria de Melhor Atriz pelo Oscar), e o que não podia faltar numa narrativa que usa o storytelling é o conflito, que é a motivação de Cassie para se vingar (o abuso sofrido pela amiga).  

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   Entre os vitoriosos do Oscar de 2021 está "Soul", que foi premiado como melhor animação. Dirigido por Pete Docter, foi lançado no início de janeiro deste ano. É uma emocionante narrativa sobre aspirações, sonhos e paixões. A narrativa conta a história de Joe, que é um professor de música. Sua vida nunca foi como ele esperava, quando algo que sempre sonhou ocorre, ele acaba sendo levado para outra realidade. A história traz a questão sobre o que vem após a vida, pergunta que muitas pessoas fazem. O filme instiga o lado emocional do público e conta a história para fazer o consumidor de conteúdo se colocar no lugar do personagem. Fazendo o telespectador se questionar como seria chegar perto de realizar um sonho e simplesmente não poder, contudo, descobrir, nessa situação, outras formas de sonhar. É mais uma produção da Pixar que emocionou. 

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   O Emmy também é um selecionador de bons storytellings audiovisuais. Para que o público queira assistir, não apenas um episódio, como também uma temporada - ou muitas - o público precisa dessa conexão, se sentir instigado e criar simpatia e empatia pela trama. O Emmy de 2020 premiou sete vezes a série canadense da CBC, "Schitt’s Creek", a qual trata de temas cotidianos, como a vida familiar e também a sexualidade. Há conflitos dentro da trama e personagens que geram identificação. Outra série premiada e que têm storytelling bem definido é "Brooklyn Nine-nine" que aborda vários assuntos cotidianos na qual cada personagem tem uma narrativa específica e que consegue representar o público de diferentes classes e etnias. Como Rosa Diaz, uma policial latina da nonagésima delegacia de polícia do Brooklyn que ao longo da trama se descobre bissexual e passa por dificuldades de aceitação pela sua família, mesmo após adulta, por estar se relacionando com uma mulher. 

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   Sobre a metodologia do Storytelling, o diretor de TV e cineasta com mais de 20 anos de carreira em projetos de audiovisual, Fulvio Maia, faz um paralelo entre o storytelling no cinema e o storytelling usado no Marketing - área que mais usa essa técnica para fazer audiovisuais. Maia comenta que ambos são semelhantes na parte técnica. O roteirista, que segundo Maia, nem sempre é o mesmo criador da história, ele consegue fazer a história funcionar em qualquer plataforma, a diferença está no objetivo daquela história contada e nos elementos usados. Sobre as técnicas usadas e como são aplicadas, o diretor de TV explica:

Crédito: Larissa Vasconcelos

Do ponto de vista de construção ela é a mesma. Digamos que, se a proposta seja fazer uma história para ser contada no cinema, uma história para ser contada na televisão, uma história para ser contada em um comercial de TV e uma história para ser contada numa campanha de Marketing, exclusiva de internet, com pílulas no Youtube. A maneira como o roteirista vai se engajar para contar essa história é muito similar nessas plataformas.

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Fulvio Maia

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   Isto é, uma mesma história pode ser contada pelas diferentes mídias e, de forma técnica, isso é bastante similar, o que diverge um do outro é o objetivo que cada produção tem. “A diferença é o que está por trás, atrás, por exemplo de uma campanha de marketing, há uma marca. Há todo o critério de construção narrativa que precisa contar aquela história associada a uma marca. Pro audiovisual, puro e simplesmente, do ponto de vista da mecânica não vai mudar nada, o roteirista vai ter que escrever uma história de qualquer maneira. E no caso do cinema não, no caso do cinema ele não está vinculado a uma necessidade de vender um produto ou um serviço. Ele está comprometido em contar uma história, pura e simplesmente", Maia explica.

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   O criador da produtora Prana Filmes, da qual é sócio-diretor ao lado de Luciana Tomasi, e professor titular da PUCRS, atuando no Curso Superior de Tecnologia em Produção Audiovisual, Carlos Gerbase comenta que as histórias contadas no cinema e no audiovisual são caracterizadas pela existência de três atos: início, meio e fim. 

Há um começo, um meio e um fim. Sempre há. O que a gente faz é brincar um com a ordem do começo, do meio e do fim. Há muitas maneiras de brincar com essa ordem, algumas delas do cinema inventou, mas muitas delas, o cinema tomou emprestado da literatura e do teatro.

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O especialista Fulvio Maia explica as diferenças entre o storytelling no cinema e no marketing

Carlos Gerbase

   Mas então qual a melhor maneira de contar uma história? Gerbase afirma que “Obviamente a melhor maneira depende da história, depende do conflito, depende dos personagens, depende do tipo de público que tu queres atingir, depende da encomenda, às vezes, que o roteirista tem pra fazer isto, ou aquilo etc. Depende do mercado, depende da moda, depende de um monte de coisa.”

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   Para o cineasta e diretor de TV, ativo no mercado audiovisual brasileiro desde 1997, Fulvio Maia, há uma divisão nos três atos do cinema, início, meio e fim. Porque geralmente no meio do segundo ato existe um midpoint, o ponto de virada da história, que acaba dividindo este ato central em dois. É justamente neste ato central, dividido em dois, que há mais dificuldade em escrever, porque todo o desenrolar da trama acontece neste ato central. Gerbase também afirma que a parte mais complicada é escrever o roteiro, mas, do ponto de vista físico, o mais difícil é coordenar tudo, ser o diretor.

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   Sobre o cenário da cinematografia brasileira, embora pareça que há um pré-conceito de que esta é mais fraca, para Gerbase não é bem assim, pois é como comparar a Terra com o Sol. “Então, ao mesmo tempo que tu tens que dizer assim: Somos tão pequenos, nós temos tão menos poder, nós temos muito menos produção, nós temos muito menos capacidade de colocar nossos produtos no mercado mundial, tu podes eventualmente dizer: que joia maravilhosa estava escondida dentro da bola de gude. Que coisa incrível que tem o planeta Terra que é tão pequenininho frente ao Sol, mas que é capaz de produzir filmes incríveis.”

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   Em relação ao cinema nacional, Fulvio Maia problematiza a pouca produção dos filmes no Brasil, mas destaca que aqui a qualidade proporcional é melhor. "Por exemplo, se a gente tem aí uma produção de 1500 filmes nos Estados Unidos, anual… é até menos que isso, 800, 900. Vamos colocar 1000. Se o Brasil produz 80 longas-metragem por ano, a proporção de filmes bons é muito maior do que os mil que os americanos produziram. Proporcionalmente é maior, mas, assim, estou falando em termos proporcionais, não em termos de números, quantidade né. Isso é bom, significa que se desperdiça menos histórias no Brasil, do que em outras partes do mundo". Maia acrescenta que a pouca produção no cinema nacional está também relacionado ao investimento no cinema, que é diferente do que em outras partes do mundo. No Brasil se depende de um incentivo governamental na cultura, de forma geral. Nos Estados Unidos, por exemplo, empresas privadas investem no cinema, por isso a produção é mais facilitada. Contudo, é interessante ressaltar que empresas privadas também investem no cenário cinematográfico, a Rede Globo é uma empresa que periodicamente investe em obras nacionais, assim como, nos últimos anos, a Netflix vem produzindo e distribuindo conteúdos brasileiros para o mundo. Inclusive, Maia complementa que o sistema de streaming é o que vai transformar o mercado brasileiro de audiovisual.

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   Hoje, com a pandemia da Covid-19, é possível sentir o impacto nas produções cinematográficas que, como os demais setores, como indústria e comércio, tiveram que parar. Mas esse não é o único problema no momento, porque ainda há a omissão do governo em relação a políticas culturais e uma onda de preconceito com a arte. "O que o Governo vinha fazendo antes da pandemia para a cultura era muito pouco, então, obviamente, durante a pandemia isso só se agravou”, comenta Maia.

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   Para Gerbase, o maior preconceito contra a arte brasileira vem do Governo atual, “Agora, neste momento, estou falando de 2020 e 2021, o preconceito contra a arte, contra os artistas, de todos os tipos, mas muito contra os cineastas, é brutal. O Governo Bolsonaro está asfixiando completamente todos os órgãos de apoio ao audiovisual. É um preconceito como nunca aconteceu”.

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   Contudo, o cinema nacional continua resistindo. Inclusive, filmes nacionais também são construídos usando o storytelling. O famoso "Auto da compadecida", de 2000, dirigido por Guel Arraes, narra a história no sertão nordestino envolvendo a fé. Embora seja um filme de comédia, consegue emocionar o espectador, trazendo a questão de como seria a vida após a morte, assim como outras tramas que causam curiosidade no público.

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   Um filme mais recente, do diretor Jeferson De, de 2020, é "Quando a morte socorre a vida", o qual conta o filme pelo ponto de vista do personagem principal, que é um estudante negro de Medicina, que se questiona por que todos os corpos estudados na faculdade são corpos negros. Aborda também a religiosidade. São assuntos cotidianos levados para a filmografia, que evidenciam o uso do storytelling. Isto é, audiovisuais que desenvolvem narrativas engajadas com pautas sociais relativas a época de seus lançamentos, com personagens bem construídos, carismáticos, que envolvem o público, servindo de exemplos de identificação, cenários, ambientação de acordo com a realidade do personagem, um conflito, e, de certa forma, passando uma mensagem. Embora o cinema nacional desenvolva menos produções do que outros países, também é identificável quanto conteúdo com qualidade há no país. Com pouco investimento do Governo, sem um reconhecimento integral dos brasileiros, o cinema nacional persiste e entrega boas produções com storytellings. 

Assista a entrevista com Fulvio Maia sobre Storytelling, cinema e filmografia nacional:

   Esta técnica que também se apresenta em outra forma audiovisual de narrativas, que são os videogames.  

Jogos eletrônicos e o storytelling

Jogos eletrônicos e o storytelling

Âncora 4

Disco de jogo 4 inserido, etapa final.

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Há 30 anos, uma criança iniciava seu interesse por jogos eletrônicos através de um Atari 2600, um videogame lançado no Brasil em 1983. Poucos anos mais tarde, se interessou por desenhar e aos 10 anos criou o seu próprio jogo, após descobrir que era possível programar jogos. 

   Parece uma história fictícia, mas o interesse por jogos do graduado em Ciência da Computação, mestre e doutor em Engenharia Mecânica e professor da FATEC Americana, Kleber de Oliveira Andrade, o levou a desenvolver jogos aos 10 anos e hoje, aos 34 anos, tem sua carreira consolidada em cima disso. 

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   Nem todos os jogadores de eletrônicos tiveram a habilidade de aos 10 anos desenvolver o seu próprio jogo, contudo, o interesse desde de criança por jogos é uma realidade, dessa forma, a história de Kleber Andrade representa a população mundial de forma significativa. Afinal, segundo dados da DFC Intelligence, uma empresa de consultoria focada na indústria de entretenimento interativo e videogame, 3,1 bilhões de pessoas no mundo jogam eletrônicos. 

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   Atualmente, Kleber Andrade segue desenvolvendo jogos, enquanto ministra cursos de análise e desenvolvimento de sistemas e jogos digitais. Como exemplo de um dos jogos que tem a narrativa mais interessante e que é possível encontrar o storytelling, Andrade comenta sobre "Ori and the Blind Forest", que é um videogame de aventura, desenvolvido pela Moon Studios e publicado pela Microsoft para Xbox One e Windows 10, em 2015.

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   É um jogo que conta sobre a jornada de um personagem, a qual envolve autoconhecimento, responsabilidade, coragem, sacrifício, devoção do personagem principal. Andrade  descreve o jogo:

O personagem é um espírito da floresta órfão, que basicamente foi exilado da terra natal dele e foi adotado por Naru, que acaba considerando ele como filho. E nessa jornada você passa por um ambiente, por uma história que é mais contada por expressões, apesar de ter um narrador por trás, às vezes, mas ela tem muito as expressões e animações dos personagens e do ambiente contando toda aquela história do que, de fato, uma história em si. É uma história narrada, então o Storytelling aparece ali de algumas formas. Na forma de narrativa, ele (o storytelling) aparece na jornada do personagem e aparece principalmente nas emoções que o personagem passa pela suas expressões e pela música que toca durante a jornada dele.

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Crédito: Kleber Andrade

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O vídeo game sempre esteve presente na história de vida de Kebler Andrade

Kleber de Oliveira Andrade

   Um jogo é construído, frequentemente, em cima disso: uma narrativa formulada para contar uma história. Embora não seja uma regra, pois, por vezes, a narrativa do jogo é simplesmente casual, tendo o objetivo de descontrair o usuário. Entretanto, quando um jogo eletrônico é criado para manter o usuário entretido por longos minutos ou horas, o processo de desenvolvimento envolve a criação de um enredo bem estruturado. Tendo como etapas a definição de um público-alvo, a elaboração de personagens, uma história formulada que pode ser dos mais diferentes gêneros como ação, suspense, terror etc. Todo o design é super importante, mas o guia para a criação disso é a narrativa.

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   O professor da FATEC comenta sobre o jogo The First Tree, o qual é um jogo que Andrade considera que tem uma história bastante interessante. A narrativa convida o usuário a explorar, em terceira pessoa, duas histórias em paralelo. Em um primeiro momento, o jogador controla uma raposa, a qual busca encontrar a família. Em um segundo momento, o jogo apresenta a história de um filho que quer reencontrar o pai, no Alaska. "Você controla a raposa nessa jornada em busca dos filhos dela, porém, em paralelo, você tem a história de um filho se reconectando com o seu pai. E durante o jogo você basicamente, nessa jornada, vai descobrindo artefatos, fitas e diversas coisas que fazem a história dessa raposa se misturar com a história desse filho até chegar nessa primeira árvore". Aqui, Andrade faz referência ao nome do jogo que é "A primeira árvore", na qual é um elemento conector da história, isto é, o título do jogo está relacionado com o desenvolvimento dele, que é o que ocorre em qualquer história: as partes precisam fazer sentido. Ele segue descrevendo o jogo: "Então, essa primeira árvore é quase um símbolo de um recomeço, após alguma tragédia. E a história desse filho é justamente a história do autor do game. Então, o jogo utiliza diversos elementos para conseguir contar a história dele, enquanto o jogador anda com a raposa, também passando pela história dela e as histórias se cruzam". O criador do jogo, David Wehle, quis colocar dentro do seu primeiro projeto - The First Tree -, uma de suas experiências de vida, que é a perda do pai. Não é um jogo difícil, é um videogame que cativa, leva no máximo três horas para ser finalizado, contando com efeitos sonoros que contribuem para criar um clima dramático. 

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   Elementos esses que são essenciais para um jogo duradouro, que usa o recurso do storytelling, como esses dois jogos citados até agora. O storytelling envolve personagens, ambiente, desafio ou conflito, que são capazes de afetar, dependendo da construção do jogo, em maior ou menor escala, o usuário. São os componentes que Andrade destaca como importantes para um jogo ser bom.

Eu acho que alguns elementos são extremamente importantes, como o personagem. Então você de alguma forma cria uma empatia de jogador pelo personagem ou com a história dele, isso é muito importante. O conflito para criar o suspense para criar alguma coisa ali, que motive o personagem a querer levar aquele personagem até o final da história. A ambientação de uma forma geral é importante também. Eu gosto muito que o ambiente convide o jogador a explorá-lo, então eu acho interessante e, do meu ponto de vista, talvez a mensagem, mas a mensagem vai depender muito do tipo de jogo. Então, eu gosto de jogos que têm uma mensagem muito forte e ultrapassa a ideia de jogo ser só diversão, porém é claro que ficar misturando isso é mais complexo

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Kleber de Oliveira Andrade

   Afinal, nem todo jogador tem interesse na narrativa completa, mesmo que ele escolha um jogo com storytelling, por vezes, pode não se sentir instigado a ler todos os diálogos, entender cada momento e quer apenas jogar e chegar até o final. O professor explica que sente que o maior desafio na construção da narrativa é ponderar a quantidade de história dentro dos jogos. Sendo completamente possível ter um bom jogo sem storytelling, que são os jogos casuais, nos quais o objetivo é simplesmente se distrair sem pensar na narrativa da história. Sobre jogos envolvendo a arte de contar histórias, Andrade menciona outros como Celeste, Final Fantasy, Hollow Knight, The Last Of Us, Assassin’s Creed, os quais são jogos que ele classifica como "Triple-A", isto é, jogos que em que há um bom investimento, por isso se espera um resultado excelente. Sobre a importância do storytelling nesses videogames, segundo ele, é devido a "passar uma mensagem ou tentar guiar o jogador por uma ‘espinha dorsal’ da história, do início ao fim, que o cara que escreveu a história deseja".

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   Esse é o interesse em jogos do estudante do 4° semestre de Jogos Digitais pela FATEC de Americana, Leonardo Fabrício de Sousa. Iniciar um jogo e ser levado por ele até dentro da narrativa é o que mais agrada ao Fabrício.


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Eu gosto da ideia de você estar contando uma história maravilhosa ou de aquilo que você esteja jogando, por mais que você não construa a história do jogo, o universo do jogo em si tenha uma história cativante, tem uma história interessante

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Leonardo Fabrício de Sousa

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Leonardo de Sousa acredita que um dos grandes ganhos dos jogos é ter a possibilidade de contar boas histórias

Crédito: Anthony T.

   Leonardo de Sousa se sente mais instigado consumindo jogos que tenham uma narrativa bem construída, dessa forma, usando da técnica do storytelling. Inclusive, o jogo favorito do estudante é To the Moon, um RPG de aventura, desenvolvido pela Freebird Games, lançado em 2011, o qual usa o recurso de contar uma história, embora simples, bem desenvolvida, como ele explica: "é uma empresa que desenvolveu uma ferramenta que pode entrar na mente das pessoas. Ela usa essas ferramentas para descobrir, meio que estudar, o que essa pessoa já viveu, de acordo com o passado do que ela lembra, e através disso, eles modificam alguns pedaços dessa história dentro da cabeça dessas pessoas e elas realizam o último desejo que elas têm. Então, essa máquina é sempre usada no leito de morte dessas pessoas. É basicamente isso, você é um personagem que está vasculhando a memória do senhor que está morrendo, e tenta fazer com que você mexa alguns pauzinhos dentro da memória dele, levando ele a realizar o sonho dele, que como o nome já diz: é ir à lua". Ele ainda complementa que é uma história que faz qualquer "marmanjo barbado" chorar. 

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   O storytelling pode não ser essencial para o desenvolvimento de jogos, como o professor Andrade e o estudante Leonardo explicaram, contudo, para que uma história cative, desperte no usuário a vontade de passar longos minutos e horas naquele jogo, o storytelling se torna fundamental.

Ouça o nosso podcast sobre storytelling e jogos digitais:

   O storytelling é uma técnica antiga, presente em músicas, livros, filmes, séries, propagandas para a televisão, jogos eletrônicos e até palestras, a qual contribui para uma produção interessante e estruturada de conteúdo e comunicação.

              A franquia jornalística "Marcador de Ideias" foi produzida pelos alunos:
Anthony Teixeira - Produtor editor, responsável pela produção e edição do conteúdo das editorias "Música" e "Jogos", incluindo podcasts.
Guilherme Henriques - Produtor editor, responsável pela produção e edição do conteúdo das editorias "Música" e "Jogos", e edição do vídeo introdutório "Storytelling: a arte de contar histórias".
Jorge Pacheco - Produtor executivo, responsável pela produção e edição do conteúdo da editoria "Literatura". Coordenador da página "Marcador de Ideias" no Instagram.
Larissa Vasconcelos - Produtora executiva, responsável pela produção e edição do conteúdo da editoria "Cinema/filmes", incluindo o vídeo de Cinema.
Rayssa Mambach - Diretora da franquia, responsável pela administração do Marcador de Ideias. Coordenadora das páginas "Marcador de Ideias" no Facebook e no Twitter.
O site foi ministrado pela Franquia Marcador de Ideias.

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O projeto geral foi desenvolvido sob orientação acadêmica do professor Marco Bonito e acompanhamento da estagiária docente Caroline Andrades, para a disciplina de Jornalismo Digital II, da Universidade Federal do Pampa.

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